domingo, 7 de abril de 2013

POLÍTICA DE TITULAÇÃO NAS IFES

                                               Pode-se afirmar que esse é um assunto  complexo. Nos idos de 1990, durante longos cinco anos, exerci a função de representante do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) na Câmara de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal. A reunião semanal era constituída dos membros integrantes da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós – graduação (PRPPG).  Assumia naquela década, o cargo eletivo de Coordenador geral de três Cursos de graduação na área de Ciências Biológicas, ofertados pelo ICB. Como trabalhava em regime de dedicação exclusiva, observava diariamente, as várias dificuldades enfrentadas pelos alunos nas disciplinas que cursavam em diferentes unidades da universidade.
                                               Anotava rotineiramente, muitas reclamações do corpo discente, originadas principalmente dos atritos provocados pelas diversas questões de ensino: avaliações nas formas de provas, exposição teórica, aulas práticas, relacionamento aluno/professor, etc. Um procedimento encontrado na época pela PRPPG, visando atenuar o problema, foi adotar uma política de qualificação. A Universidade concederia afastamento remunerado para que os docentes do quadro permanente pudessem elevar a sua preparação cursando o mestrado/doutorado.
                                               Durante vários anos houve a liberação de número significativo de docentes que partiam para outros centros universitários a fim de obter a titulação almejada. É importante esclarecer que existiu o cuidado de estabelecer e manter a política de estímulos sem o cometimento de excessos, i.e., sem a obrigação de cursar a pós-graduação. Era uma opção livre daquele que solicitava o afastamento. As avaliações dessa política inovadora indicavam que os índices de qualidade foram elevados, i.e, houve mesmo uma melhoria geral no ensino, pesquisa e das atividade de orientação, com abertura subseqüente de vários cursos de pós-graduação e de laboratórios de pesquisa que angariaram mais recursos, de toda ordem, promovendo crescimento importante  na universidade.
                                               É preciso destacar que naquele tempo, havia também os que não se conformavam com a não obrigatoriedade dos procedimentos de qualificação. Lutavam pelo estabelecimento de procedimentos obrigatórios a qualquer custo. Nesse sentido as discriminações veladas ou não e que ocorriam devido aos problemas relativos a titulação, surgiam com mais freqüência e  diminuíam a produção porque gerava dificuldades de relacionamento, as mais diversas,  no ambiente do trabalho.
                                               Certamente deve-se destacar ainda o que é já do conhecimento da maioria. O doutorado ou até mesmo, o pós-doutorado, não é garantia de serviço produtivo, adequado e de  qualidade. São inúmeros os casos que nos levam a essa conclusão. Somente para exemplificar: fazíamos parte de uma reunião do Conselho Diretor da Escola de Veterinária, quando os alunos reclamaram das aulas de certo professor doutor. Convocado para se explicar, o docente disse que era mesmo tudo verdade. Acrescentou dizendo que não gostava de dar aulas para “capa-gatos”! O Diretor pedindo a palavra esclareceu ao professor que o veterinário tem mesmo a função de capar gatos e que se fosse preciso castravam também o cão.                                                     
Enfim,            retiraram o docente do curso e para minha surpresa era o que ele pretendia. Queria dar aulas para uma turma de outro curso, com menos alunos e nesse caso, havia menos trabalho. Eram ainda muitos os casos de docentes que apresentavam os títulos de estudos elevados e que não queriam dar aulas. Priorizavam a pesquisa e criavam dificuldades para a instituição. Pode-se ainda afirmar que houve excessos quando passaram a exigir o título de doutor para exercer todas as demais atividades na universidade. Cargos de administração eletivos ou não, por exemplo. Ora, o doutorado prepara para funções técnicas especializadas na área específica de estudos
                                               Houve ainda diferenciações enormes, até mesmo, entre mestres e doutores o que contribuiu para a insatisfação generalizada que afetou o rendimento geral. O mestre que até então não era, passou de repente, a ser incapaz de desenvolver tarefas como a orientação, por exemplo. Foi proibido de receber bolsas de pesquisa, etc. O excesso existiu ainda quando fui cientificado por um funcionário de universidade federal  obrigado a se  afastar  para obter titulação. O salário era o que todos sabem e somente a bolsa não cobria os gastos adicionais. Ficou traumatizado! Disse que concluiu o curso, mas que não  compensou.
                                               São realmente necessários os cursos de reciclagem quando o professor, de qualquer nível de ensino, de qualquer que seja a titulação, permanece em atividade por longo tempo. Mas, daí a exigir o doutorado desapreciando o título de mestre, o especialista e até mesmo o graduado, é incorrer em generalização imprópria que desconsidera as diferenças individuais e que são enormes. Existem áreas do conhecimento em que o estudo e a vontade, associados ao dom natural, revela a importância de não exigir titulação de doutor, sob pena de prejudicar os benefícios que a escola pode transferir à sociedade.
                                               Nesse sentido, torna-se necessário promover os procedimentos de “ajuste fino” a política de qualificação que foi instalada na universidade. É preciso aperfeiçoá-la para não incorrer em injustiças. Conheci no interior de Goiás, um personagem que possuía o ensino médio. Estudava tanto a disciplina de paleontologia, que ninguém conhecia mais que ele, as figuras pré-históricas desenhadas nas paredes das cavernas da região. Conhecia tanto os fosseis que chegou a montar um museu com as mais diferentes peças ósseas de animais antigos e extintos. Os professores universitários com os elevados graus de instrução, dessa área de estudos, conduziam as turmas para que pudessem assistir a suas aulas.
                                                No diário virtual divulgo artigo de opiniões considerando a educação: http://walmirton.blogspot.com.br/. Apesar de considerar, muito lento, o “site” já apresentou mais de mil acessos. Quem quer que seja que tenha acessado, “patrulhando” ou não, pode-se dizer ainda bem que o assunto desperta algum interesse. Por fim, é prudente e enriquecedor para todos, que a política de titulação seja desprovida de extremismos desnecessários, permitindo a universidade à possibilidade de decidir o seu destino.

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